sexta-feira, abril 14, 2006

Anatomia de uma decisão

Dizem os jornais de hoje que o governo brasileiro assinou um memorando de entedimento com o modelo japonês manifestando "... seu forte desejo de implementar o SBTVD [Sistema Brasileiro de TV Digital], com base no ISDB [padrão japonês]" (Folha de S. Paulo).

Como já disse o Sr. Ministro das Comunicações Hélio Costa, tá colocada a bola na marca do pênalti para o Presidente Lula fazer o gol. Será que desta vez vai?

Acho que a decisão de um padrão neste momento, seja ele qual for, sem antes abrir espaço para inovações regulatórias é totalmente incoveniente, mas não é isso que quero discutir aqui.

O que fico me lembrando é da falta de seriedade na condução do processo de decisão, na reta final.

O decreto 4901, que instituiu o SBTVD é simples, claro e sério.

Os documentos intermediários gerados pelo CPqD são trabalhos científicos de altíssimo nível e merecem a leitura por todos interessados em TV Digital.

Os relatórios gerados pelos consórcios de desenvolvimento são resultado de trabalho sério, dedicado e, em vários casos, idealista (em outras palavras... feitos mesmo sem ter recebido o dinheiro e sem dispor do prazo previsto em contrato).

O relatório final do CPqD, que nem ao menos foi divulgado pelo governo é, sem dúvida, um trabalho sério.

Agora, pode ser considerado sério o processo de decisões conduzido pelo Sr. Ministro Hélio Costa a partir daí? Todas as declarações feitas, os adiamentos, as cartas sacadas da manga na última hora. Como pode o executivo se preocupar apenas com o padrão tecnológico, com tantas outras decisões pendentes sobre o modelo?

Como que este país (governo) pode ser considerado sério quando, já estourados todo os prazos da decisão, já tendo conversado com representantes de todos os padrões, saca da manga uma necessidade de contrapartida: uma fábrica de semicondutores, como se fosse a coisa mais natural do mundo uma indústria se comprometer a instalar uma.

Não tenho nada contra contrapartidas numa decisão que envolve tantos recursos mas, isto não deveria ter sido dito desde o começo?

Todo o trabalho sério feito por tanta gente séria, no final, reduzido apenas a uma assinatura de um memorando de intenções... Isso é seriedade?

sexta-feira, abril 07, 2006

Eu... na TV UFMG II

Ontem participei de um outro programa na TV Universitária junto com a Prof. Regina Mota e o Prof. Hani Yehia. Desta vez fui ao ar mesmo!

O programa foi ao vivo mas ele será reexibido sexta, 10h; sábado, 9h; domingo, 19h; segunda, 15 h e terça, 8h.

Espectro infinito!

Gosto muito de novidades que te fazem repensar conceitos arraigados. Sinto que isto dá uma arejada muito grande na cabeça da gente. Esta manhã tive o prazer de cair (nem sei mais como) numa página sobre o movimento Open Spectrum.

Em poucas palavras, o que eles defendem é a liberação de mais espectro para uso sem necessidade de licença, pois a tecnologia hoje já permite um compartilhamento muito eficiente, ao contrário do que acontecia no início do século XX, quando os governos passaram a administrá-lo.

Leiam o FAQ, que é MUITO interessante...

E vejam o endereço http://www.openspectrum.info/

segunda-feira, abril 03, 2006

Operador de Rede - artigo de Gustavo Gindre

Reproduzo abaixo a coluna de Gustavo Gindre no site Fazendo Media onde ele fala muito bem sobre a figura do Operador de Rede, como proposta para o melhor uso do espectro disponibilizado pela TV Digital.

(Não deixei só o link pois me parece que as novas colunas vão substituindo as antigas...)

29.03.2006
Entenda porque as emissoras de TV querem o ISDB e o que isso vai representar na sua vida

O noticiário da grande imprensa sobre a TV digital tem sido marcado pela disputa entre as emissoras de televisão e as operadoras de telecomunicações. A briga existe. Mas, o principal receio das emissoras de TV é outro e, por isso mesmo, tem sido evitado pelos principais jornais e TVs. Chama-se canal de 6 MHz. E você vai entender porque.

Ocorre que, no Brasil, cada canal de TV ocupa um espaço de 6 MHz no espectro eletromagnético. Ou seja, tal como em uma régua, cada canal ocupa seis unidades de MHz. Na TV analógica esse era o espaço necessário para se colocar uma única programação. Assim, quando uma emissora conseguia uma outorga de TV, ela obtinha junto este espaço, a fim de transmitir sua programação. É isso que chamamos de canais de televisão, tanto para o VHF quanto para o UHF.
Na TV digital, neste mesmo espaço, é possível colocar muito mais coisas. Especialmente se o Brasil optar pelo codec de vídeo chamado H 264 (MPEG 4) que permite uma compressão de imagem muito melhor e maior do que o seu antecessor, o MPEG 2. Por exemplo, caso seja usada a definição de imagem chamada standard (imagem igual a de um DVD, sem chuviscos ou fantasmas, com som surround), o mesmo espaço de 6 MHz que antes comportava apenas uma única programação de TV hoje suporta até quatro programações simultâneas e ainda sobra algum espaço para a transmissão de dados (típica dos serviços interativos).


Neste contexto é que surge a proposta de se criar no Brasil o chamado "operador de rede". As emissoras deixariam de transmitir cada uma sua própria programação, a partir de sua antena exclusiva. Elas simplesmente entregariam suas grades de programação para um operador de rede, que reuniria todas as grades de programação e transmitiria tudo junto a partir de uma única antena. Assim, as emissoras não precisariam investir na digitalização de suas torres de transmissão, bastando pagar uma mensalidade para o operador de rede. O que terminaria favorecendo as emissoras menores que dispõem de menos recursos. Ao mesmo tempo, poderia-se pensar em formas de subsídio cruzado, com o operador de rede sendo obrigado a transmitir, sem nada cobrar por isso, as programações das emissoras públicas e comunitárias.

(Claro que este operador de rede teria que ser fortemente regulado, para garantir que todas as emissoras fossem tratadas de forma isonômica e que ele não pudesse exercer nenhum tipo de controle e/ou censura em relação às grades de programação que serão transmitidas)

Mas, fundamentalmente, o operador de rede permite otimizar o espectro eletromagnético. Assim, ele poderia pegar quatro programações diferentes e colocá-las todas dentro de uma mesmo canal de 6 MHz que atualmente transporta apenas uma única programação. Seria uma espécie de reforma agrária do ar. Se uma emissora recebeu do Estado um espaço necessário para transportar a sua programação, mas agora neste mesmo espaço é possível colocar mais emissoras, é justo promover uma redistribuição do espectro eletromagnético, permitindo que mais emissoras passem a existir.

E é exatamente isso que as emissoras comerciais (Globo à frente) não querem.

Segmentação espectral

O projeto da Globo passa, em primeiro lugar, por evitar a adoção do operador de rede. Assim, as emissoras continuariam transmitindo de suas próprias antenas e cada uma permaneceria dona de seu canal de 6 MHz.

Neste canal (agora um imenso latifúndio), a Globo transmitiria três vezes a mesma programação, mas com definições de imagens diferentes (o que chamamos de "segmentação espectral"): 1) para aqueles que possuem TVs de alta definição ("HD ready", com telas não menores do que 42''); 2) para aqueles que continuam com suas TVs atuais, mas que compraram terminais de acesso (aquelas caixinhas iguais às das TVs pagas) a fim de receber o sinal digital; 3) para aqueles que assistem TV em movimento (telefones celulares, handhelds ou mesmo pequenas TVs colocadas em carros e ônibus).

Nada de novas emissoras com outras grades de programação. Apenas as mesmas emissoras atuais, com uma imagem muito melhor (para quem puder pagar pelo aparelho) ou assistindo no seu carro.

Mas, não é verdade o que a imprensa tem dito que outros padrões de modulação não permitem que se transmita para recepção em movimento (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=374IPB002) ou em alta definição. Seria possível fazer o que a Globo quer usando o europeu DVB, por exemplo.

Então, por que a Globo tanto deseja o japonês ISDB?

Porque, com o DVB europeu seria impossível transmitir dentro do mesmo canal de 6 MHz estas três diferentes definições de imagem.

Com o DVB seria perfeitamente viável dividir o canal de 6 MHz em mais de uma programação, colocando outras emissoras, mas o DVB não faz a segmentação espectral. Dentro de um mesmo canal, vai tudo em alta definição ou em definição standard ou em low definition (para recepção em movimento). Caso a Globo quisesse transmitir a sua programação com os três diferentes tipos de definição, ela teria que adotar o operador de rede. Assim, o operador colocaria em alguns canais as programações das emissoras que transmitissem em alta definição, em outros canais as programações em standard e em outros canais as programações para recepção em movimento.

A Globo continuaria mantendo a estratégia comercial de transmitir a sua programação com três diferentes definições de imagem. Mas, e esse é o ponto central de nossa história, seria obrigada a abrir mão do controle do espectro eletromagnético em troca da adoção do operador de rede. E ficaria sujeita ao discurso a favor de uma redistribuição deste espectro para que o operador de rede pudesse colocar no mesmo espaço mais emissoras de TV.

No fundo, a briga é pela propriedade e pelo controle sobre o uso de um dos bens públicos mais escassos das sociedades contemporâneas: o espectro eletromagnético. E não tem nada que ver com receber ou não a imagem em celulares.

SORCER

O mais cruel de toda essa história, contudo, é saber que mesmo que concordássemos com os planos da Globo, seria possível desenvolver a mesma estratégia comercial usando um outro padrão de modulação, o brasileiro SORCER, desenvolvido pela equipe da PUC-RS, que também permite o uso da segmentação espectral.

Então, por que a Globo prefere desenvolver a sua estratégia de controle do espectro eletromagnético usando uma tecnologia importada, que implicaria, em tese, no pagamento de royalties?

A Globo foi dona, durante muitos anos, da subsidiária brasileira da japonesa NEC. Ao mesmo tempo, possui forte relação comercial com outra japonesa, a Sony. No site da revista Produção Profissional (http://www.editorialbolina.com/br/pp/artigos.php?tipo=artigo&id=150&canal=0) podemos ler uma entrevista com o Diretor de Tecnologia da Globo, Fernando Bittencourt, onde este afirma que a Sony já chegou a desenvolver um equipamento de VT especialmente para atender as demandas da Globo.

E aqui podemos juntar outra parte desse quebra-cabeça.

Enquanto a imprensa noticia a disputa por uma fábrica de semicondutores, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) publicou no Diário Oficial da União, do dia 25 de fevereiro, decisão de reduzir de 16% para 2% a alíquota do Imposto de Importação sobre três tipos de equipamentos utilizados por emissoras de televisão. Foram incluídos na lista de bens de informática e telecomunicações, na condição de ex-tarifários, aparelhos de mixagem e processamento de sinais de áudio digital, mesas de computação de sinais de vídeo e monitores de forma de onda, que medem a qualidade do sinal de televisão. Também foi renovada a redução, para 2%, da alíquota do Imposto de Importação para monitores de vídeo profissional para estúdios de TV, utilizados em ilha de edição ou unidades móveis das emissoras. A redução ficará em vigor até 31 de dezembro de 2007.

Assim, além de garantir o seu controle sobre o espectro eletromagnético, evitando que novas emissoras entrem no ar, a escolha pelo ISDB permite à Globo realizar excelentes acordos comerciais com seus antigos parceiros, sob a benção do governo que reduz os impostos de importação.

Agora que sabemos o que as emissoras comerciais, especialmente a Globo, ganham com a adoção do ISDB, resta saber o que eu, você e o restante da população perdemos com isso.


Gustavo Gindre é jornalista (UFF), mestre em comunicação (UFRJ), coordenador geral do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (INDECS), membro eleito do Comitê Gestor da Internet do Brasil e membro do Coletivo Intervozes.

sexta-feira, março 31, 2006

Rima rica

O videoclip do cordel da jornalista Luciana Rabelo que foi recitado pelo ministro Gilberto Gil "sem querer" está publicado no site do CMI - Centro de Mídia Independente desde o dia 18/03. Veja aqui.

terça-feira, março 28, 2006

Na TV UFMG? Não! :-(

Ontem fiquei frustrado... minha entrevista no programa Câmera Aberta da TV UFMG foi cortada! Mas... tudo bem! Como eu disse, ficou faltando falar sobre o canal de interatividade...

O programa foi basicamente a reprodução do vídeo produzido pela UFSC sobre os trabalhos dos grupos de pesquisa que trabalharam no SBTVD. Tudo bem corridinho pois, afinal, foram muitos consórcios, mas deu prá dar o recado.

Além do vídeo da UFSC mostraram rápidas entrevistas com a Prof. Regina Mota e com o Prof. Hani Yehia. Apesar de consistentes, as entrevistas me pareceram meio frias, e não conseguiram captar o entusiasmo que os dois costumam mostrar ao debater o tema.

quinta-feira, março 23, 2006

Eu... na TV UFMG

Hoje fui entrevistado na TV UFMG para o programa Câmera Aberta que irá ao ar a partir de amanhã falando sobre tv digital. Respondi a uma pergunta rápida sobre como que a tv digital irá contribuir na inclusão digital mas... esqueci do principal! Não falei sobre o GRANDE problema da inclusão digital que é a viabilização do canal de interatividade!

Outro dia falo sobre isso!

Boa Noite e Boa Sorte

Vi ontem à noite... muito bom para pensar um pouco sobre as discussões que estão havendo em torno da TV Digital no Brasil. A fala final do Ed Murrow (veja aqui o script do filme) levantando a questão do patrocínio de programas de maior conteúdo político ou social ao invés de puro entretenimento, me faz lembrar a discussão a respeito do uso da capacidade de multiprogramação da TV Digital.

Diversas entidades hoje cobram do governo um novo marco regulatório que permita que o ganho de espectro proporcionado pela digitalização seja usado para permitir que se tenham mais canais e, com isso, se abra espaço para divulgação de idéias e mensagens que hoje não têm espaço nas grandes redes. Em contraponto, as grandes redes dizem que mais canais implica em divisão do bolo publicitário, que se encontra estagnado há alguns anos, dificultando a missão de se ter uma tv gratuita.

Acho que as emissoras de TV estão mirando no alvo errado... Acho que antes deveria-se observar porque o bolo publicitário está estagnado? Entendo que isso aconteça porque a audiência da TV aberta está caindo. E está caindo em função da concorrência, não só com a TV a cabo mas, principalmente, com outros focos de atenção como, principalmente a Internet.

Basta olhar o comportamento dos jovens hoje, quantas horas são gastas junto ao computador... Quando se tinha que pagar impulsos pelo acesso, a coisa ainda estava sob controle mas, com a explosão da banda larga, o computador passou a ser usado a qualquer hora do dia...

Site do filme: http://wip.warnerbros.com/goodnightgoodluck/index1.html

Sobre criar um blog

Não sei quantos blogs começam assim, imagino que vários! Começar um blog é uma tarefa relativamente fácil. Basta imaginar que se tem uma história para contar, um assunto de interesse para registrar e clicar em meia dúzia de botões.

Manter um blog, segundo já ouvi de alguns blogueiros, torna-se um vício meio que incontrolável. Você passa a ver o mundo e montar modelos mentais que sejam blogáveis, coisa meio maluca mesmo.

Eu tive um saborzinho desta experiência quando resolvi registrar minha viagem à Coréia desta forma (http://coreando.blogspot.com)...

O fim do blog é que se dá geralmente de forma (literalmente) lacônica, por definhamento, por abandono.

Meu objetivo aqui é falar sobre TV Digital, um assunto com o qual acabei me envolvendo nos últimos quase 3 anos e, como pode ser acompanhado nas notícias de hoje em dia, ganhou características de novela (nada mais apropriado para TV no Brasil!). Quero estudar sobre IPTV, vídeo na internet e assuntos relacionados a isto. Apesar de minha formação técnica, já tem algum tempo que não consigo me aprofundar tanto tecnicamente nestes assuntos e não acho que vai ser aqui que vou entrar em tais detalhes, embora vez ou outra deverão aparecer aqui alguns links para este tipo de informação.

E... como eu vi no filme ontem: Good night and good luck.